Ao andarmos na vida, nos deparamos com todos os tipos de pessoas que vivem suas vidas das mais diferentes formas e estamos sempre reafirmando – mesmo que num discurso vazio – que “gosto é gosto”, “cada um é cada um” ou “os gostos não se discutem.”
Então, até o senso comum – mesmo com sua mania de esvaziar, generalizar e fechar questões que deveriam ser abertas – sabe que as pessoas têm modos de subjetividade variados e que as possibilidades de vivermos nossas vidas são inúmeras. Mas aí que vem a questão: por que temos dificuldade em ter empatia com quem escolhe (não só num sentido consciente e racional, mas também de forma inconsciente, nas relações que se dão, que construímos e somos construídos) viver de forma diferente de nós? Por que o estranho, quase sempre, nos é hostil?
Freud já dizia em seu texto “Das Unheimliche” que o que nos é estranho, na verdade, nada mais é do que algo em nós que nos é familiar, mas que se apresenta como algo oculto. Para melhor entendimento do que Freud quis dizer com isso, quando um cão não reconhece o dono e o trata de forma hostil, dizemos que o cão estranhou o dono. Ou seja, onde deveria haver uma reação de carinho, apresentou-se uma hostilidade a algo que deveria lhe ser familiar. Freud ainda acrescenta que esse sentimento de estranheza aparece quando aquilo que deveria ter permanecido “secreto e oculto” vem à tona. Sendo assim, o “outro estranho” também está em nós, diz de nós, se dá na ordem da coexistência.
Voltando ao que foi dito no começo, o senso comum sabe e nós sabemos das nossas multiplicidades e estranhamos exatamente isso por nos ser tão familiar. O que provoca uma reação hostil naquele ‘outro fora de mim’, apesar de acharmos que é da ordem do exterior, na verdade diz tanto de nós mesmos.
Então, se é assim que agimos quando nos deparamos com o diferente, como praticarmos uma ética da empatia? Como criarmos afinidade com aquilo que aparece para nós imbuído de hostilidade?