A primeira é que o cérebro dessas pessoas pode ser “insensível” aos sustos. “Seja por predisposição natural ou por hábito, pessoas que se acostumam com os filmes de terror possuem o sistema límbico dessensibilizado para um tipo de estímulo que geralmente provoca repulsa na maioria pessoas”, explica Fernando Gomes, médico neurocirurgião, neurocientista e professor livre docente de neurocirurgia do HCFMUSP.
Segundo ele, quando se cria este costume, as amígdalas cerebrais “disparam” menos e, consequentemente, provocam menos reações que são associadas ao medo e ao pavor, como ansiedade, aumento da frequência cardiorrespiratória, dilatação das pupilas, ressecamento da boca, tremores e piloereção (pelos arrepiados).
De acordo com esse argumento, as pessoas que são capazes de se manterem tranquilas diante de sequências com Michael Myers, o vilão de “Halloween”, ou das armadilhas de Jigsaw, da franquia “Jogos Mortais”, provavelmente apresentam menor atividade da amígdala.
Já o neurocientista Nicolas Cesar, pesquisador do Laboratório de Cognição Humana da UFABC (Universidade Federal do ABC), pontua que a individualidade é um fator muito importante a ser considerado. Os cérebros humanos variam bastante de indivíduo para indivíduo e isso produz uma vasta gama de possíveis reações a um mesmo estímulo, como, por exemplo, um filme de terror.
“O contexto e histórico de vida de cada um importa muito também. Pode ser que algo que me assuste hoje não seria tão assustador se fosse apresentado daqui a uns anos, ou mesmo se tivesse sido apresentado ontem”, diz. A resposta depende das experiências passadas gravadas na memória, do estado emocional ao assistir ao filme, do contexto e temática da produção e atividade do cérebro.
Cesar diz que a personalidade também impacta na atração ou aversão pelo perigo, assim como a cultura, pois certos elementos dos filmes de terror podem ser mais representativos de crenças da sociedade que se associam mais fortemente ao medo.