A Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR) é uma proposta terapêutica bem estabelecida e que vem ganhando espaço entre os psicólogos, por ser sistematizada e comprometida com o Behaviorismo Radical (Skinner, 1945) e com a Ciência do Comportamento (Skinner, 1953).
Antes de falarmos sobre a TCR, precisamos então compreender esses seus pilares e como o indivíduo é entendido a partir dessas perspectivas. O Behaviorismo Radical oferece uma concepção monista do homem, ou seja, não estabelece uma “mente” como causador de algo, mas entende que tudo é comportamento. Podem ser comportamentos públicos ou encobertos, mas ainda sim são da mesma natureza. Além disso, é uma filosofia interacionista, na qual as respostas produzem consequências no ambiente e, ao mesmo tempo, entende que o homem é influenciado por estas consequências que seu comportamento gerou. Já a Ciência do Comportamento oferece um modelo precisamente sistematizado e coerente com os padrões científicos de procedimentos de mudanças comportamentais.
Dito isso, é agora possível aprofundar um pouco mais sobre a Terapia por Contingências de Reforçamento. Esta proposta, sistematizada e desenvolvida por Guilhardi (2004), diz que, embora o terapeuta se mostre interessado tanto pelos comportamentos quanto pelos sentimentos do cliente, ele não consegue acessar e trabalhar diretamente com eles. Contudo, consegue trabalhar com as contingências de reforçamento das quais os sentimentos e comportamentos são função. Todos os comportamentos – públicos e encobertos – são importantes para o terapeuta comportamental e são da mesma natureza, sendo, portanto, compreendidos e sistematizados da mesma maneira. Então, ao contrário do que é imaginado por alguns, a TCR inclui sim sentimentos e pensamentos em sua proposta terapêutica, porém não atribui valor causal nestes, ou seja, pensamentos e sentimentos não causam comportamento e sim são também comportamentos a serem explicados de acordo com a função estabelecida na história de vida do indivíduo e nas contingências de reforçamento atuais.
Na mesma direção caminha o entendimento do comportamento verbal dentro da TCR, assunto este de grande importância, já que a maior parte da interação entre terapeuta cliente é verbal. O que deve ser levado em conta não é o relato em si do cliente, mas sim de quais contingências de reforçamento o verbal é função. De forma mais clara, importa mais por que aquilo foi dito do que o que foi dito.
Outra característica da Terapia por Contingências de Reforçamento é o fato de que ela não exclui a genética do indivíduo, mas entende que os comportamentos são função da interação entre esta e as histórias de contingências passada e atual. Vale lembrar, contudo, que o terapeuta não consegue manejar o passado. Este permite uma melhor compreensão de como as funções dos comportamentos foram estabelecidas na história de vida, mas o manejo se dá nas contingências de reforçamento atuais. Os padrões comportamentais tem origem no passado, porém tem sua manutenção no presente, tornando, portanto, toda a história importante para um eficaz processo terapêutico focado na modificação de comportamentos.
De forma resumida, a unidade de análise de um terapeuta que atua com Contingências de Reforçamento é a tríplice contingência, que envolve uma situação antecedente, a resposta, e a consequência.
Cada cliente é único para a TCR. Não há uma fórmula de como lidar com as queixas e dificuldades dos indivíduos. Isso se dá por conta de sua característica contextualista, que entende que cada resposta tem uma função diferente no ambiente. Tendo em vista que o comportamento é um processo dinâmico, é essencial que sua compreensão leve em conta a interação entre ambiente-organismo, portanto não devemos procurar técnicas e procedimentos específicos para determinados problemas comportamentais dos clientes. Mas sim, de forma sistemática e organizada, refletir e analisar as funções que tem tais comportamentos dentro do ambiente que o indivíduo está inserido, ou seja, vamos sempre focar nas Contingências de Reforçamento!
Skinner, B. F. (1945/1999).The operational analysis of psychological terms. Cumulative Record (pp.416-430), Acton, MA: Copley Publishing Group.
Skinner, B.F.(1989). Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes. Publicação original de 1953.
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