Introdução

A cada ano a insônia ou dificuldade para dormir é um problema que atinge cada vez mais as pessoas. Segundo uma pesquisa realizada em 2021, pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), 65% dos brasileiros relatam uma baixa qualidade de sono. Também são crescentes os números de trabalhos e instituições destinadas a pesquisas e tratamentos aos distúrbios do sono.

Assim como a respiração e alimentação, dormir também é um comportamento muito importante e necessário. Muitas pessoas o relacionam a um momento de descanso para restaurar as energias e há aqueles que ainda acreditam que seja uma “perda de tempo”. De acordo com Serna (2018, pág. 9) o sono é caracterizado como um estado fisiológico que interrompe a vigília e é “essencial para os processos cognitivos tais como a memória e a aprendizagem, e também está estreitamente conectado aos sistemas periféricos, tais como o sistema imune e o metabolismo.” Sabe-se ainda que ele pode ser dividido em fases distintas: sono REM (Movimentos Oculares Rápidos) e sono NREM (Sem Movimentos Oculares Rápidos) e esta pode ser subdivida em quatros estágios (Antunes et al. 2008).

Segundo Antunes et al. (2008) o Grupo do Sono do Departamento de Psicobiologia da UNIFESP vem ao longo dos anos contribuindo com diversos estudos sobre a privação do sono, sendo Sérgio Tufik [1]um dos pioneiros aqui no Brasil.

Especialistas apontam que um sono de qualidade pode proporcionar diversos benefícios à saúde. Segundo Valle et al. (2009) a qualidade e tempo de sono se alteram com a idade e os cuidados devem existir desde o início da vida. Já a Associação Brasileira de Medicina do Sono (Abms) alerta para os efeitos danosos que  a redução do tempo ou privação do sono podem causar em nosso organismo.

Não podemos desconsiderar o contexto pandêmico em que estamos vivendo e seus impactos nas vidas das pessoas. Em 2020 foi realizada uma pesquisa intitulada “Acorda, Brasil!”, que objetivou compreender o sono brasileiro e seus impactos no dia a dia. O estudo é “uma das iniciativas da marca Persono, em consonância com sua missão de melhorar a vida das pessoas a partir do sono, tendo por objetivo imediato a conscientização da classe médica, das autoridades públicas, e de toda a sociedade para o grave problema de privação de sono em nosso país.”

O sono e sua importância para a vida das pessoas tem sido cada vez mais pauta de pesquisas no Brasil. Ainda sim, na literatura muito se encontra estudos realizados fora do país. Desta forma, esse artigo visa contribuir para dar mais força ao assunto, podendo ser acessado não só por profissionais da área, mas qualquer pessoa.

Saúde do sono X Distúrbios do sono

Não é novidade que uma uma ótima noite de sono influência diretamente no nosso dia a dia, nos sentimos mais dispostos, animados e produtivos. De acordo com Valle et al. (2009) “o sono interfere no humor, na memória, na atenção, nos registros sensoriais, no raciocínio, enfim nos aspectos cognitivos que relacionam uma pessoa ao seu ambiente”, desta forma, a nossa qualidade de vida e saúde podem depender de boas noites de sono. Ainda sim, são muitos os relatos de pessoas que não conseguem dormir direito.

Como já citado, segundo o Ibope 65% dos brasileiros relatam uma baixa qualidade de sono. O estudo foi realizado sob encomenda da biofarmacêutica Takeda e apontou que apenas 7% das pessoas que se enquadram nessa situação procuram ajuda médica. Muitos distúrbios do sono não são diagnosticados e tratados, pois na maioria dos casos, as pessoas desconhecem essa possibilidade. Para Roth et al (2002) “talvez em função desse desconhecimento, o paciente também deixa de relatar problemas de sono durante as consultas médicas, dificultando o acesso do profissional às informações que permitiriam o diagnóstico e o tratamento”. De acordo com a pesquisa “Acorda, Brasil!” (2020), 86% das pessoas não consideram a má qualidade de sono como um motivo importante para ir ao médico. Em contra partida, a Doutora Andrea Bacelar, presidente da Associação Brasileira do Sono, em entrevista recente, afirma que “todo médico precisa entender um pouco de sono”, pois as pessoas não vão rotineiramente ao médico do sono, mas vão ao ginecologista, ao cardiologista, por exemplo.

Muitos são os fatores que podem estar influenciando na má qualidade do sono, preocupações com trabalhos e estudos, pode manter nossa mente ativa, muitos pensamentos e não conseguimos nos “desligar.” A má alimentação ou comer muito tarde pode nos causar um desconforto físico quando deitamos. Além disso, o uso de alguns medicamentos, doenças e transtornos mentais podem estar associados à saúde do sono. De acordo com a pesquisa “Acorda Brasil!” (2020, pág. 10), o estresse ainda tem sido o maior motivo pela perda de sono dos brasileiros, seguido por outros fatores como: “preocupações com finanças e trabalhos, uso de redes sociais, sedentarismo, excesso de tv, vida social intensa, filhos em idade escolar, exercícios físicos, entre outros motivos”. Os pesquisadores ainda afirmam que todos esses motivos ficaram mais latentes devido ao difícil contexto pandêmico em que estamos vivendo.

Para Cardoso e Chagas (2019, pág. 85) a falta de sono pode causar muitas alterações em nosso organismo:

Afetar o emagrecimento – durante o sono nosso organismo produz a leptina, um hormônio capaz de controlar a sensação de saciedade ao longo do dia. Por isso, pessoas que dormem pouco produzem menores quantidades desse hormônio; Enfraquece a imunidade – durante o sono acontecem diversos processos em nosso organismo, dentre elas a produção de anticorpos; Afeta o metabolismo – As mudanças no ciclo do sono podem atrapalhar a síntese dos hormônios de crescimento e do cortisol, já que ambos são produzidos enquanto dormimos. Leva ao envelhecimento precoce – Os hormônios “rejuvenescedores” como a melatonina e o hormônio do crescimento. Os maiores resultados disso são uma pele sem viço e com olheiras. O estresse provocado pela falta de sono também favorece o aparecimento de rugas.

Muitas dessas causas e alterações podem desencadear diversos distúrbios dos sono. De acordo com Muller e Guimarães (2007) na literatura os transtornos do sono são definidos em três sistemas de classificação: a Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (ICSD), o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR) e a Classificação internacional de Doenças – CID 10. As autoras ainda afirmam que “esses três sistemas classificatórios são independentes e utilizam diferentes critérios de inclusão, causando dificuldades epidemiológicas, de diagnóstico e de interpretação de resultados sobre diferentes distúrbios do sono.” (MULLER E GUIMARÃES, 2007).

As autoras afirmam que a Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (ICSD) tem sido mais utilizado na literatura especializada e a partir desse sistema classificatório os distúrbios do sono “estão organizados em subgrupos: dissonias, parassonias, distúrbios do sono associados a alterações médico psiquiátricas e distúrbios do sono propostos”. MULLER E GUIMARÃES, 2007).

Para uma melhor compreensão, Muller e Guimarães (2007) nos apresentam os subgrupos dos distúrbios do sono:

Dissonias são transtornos primários relacionados à iniciação ou manutenção do sono ou à sonolência excessiva, com distúrbios na qualidade, quantidade ou regulação de ritmo do sono (American Psychiatry Association – APA, 1994). As dissonias formam o maior grupo dentre os transtornos do sono, com 34 distúrbios. Parassonias são alterações comportamentais ou fisiológicas que ocorrem em diferentes momentos do sono e formam o segundo maior grupo de transtornos do sono, com 24 distúrbios subdivididos em quatro subgrupos. Os distúrbios do sono relacionados a alterações médico-psiquiátricas reúnem 19 transtornos associados a doenças mentais ou neurológicas e outras afecções médicas.

Entre os diversos transtornos presentes nos sistemas de classificações, Beloli (2020) apresenta a apneia do sono (durante o sono a pessoa apresenta parada respiratória, bruxismo, ronco, insônia, sonambulismo, terror noturno (mais comum em crianças) e síndrome das pernas inquietas (vontade incontrolável de mexer as pernas) como os distúrbios do sono mais comum.

De acordo com Togeiro e Smith (2005) são utilizados a avaliação subjetiva, questionários específicos, registros actigráficos (dispositivo colocado no pulso que detecta movimentos e transfere os dados para um computador) ou polissonográficos diurnos ou noturnos como métodos de diagnósticos dos distúrbios do sono. Todos esses procedimentos são realizados por profissionais.

Segundo o Instituto do Sono de Curitiba existem hábitos e medidas simples que podem contribuir para uma qualidade do sono:

1.Ritual do sono – Devemos estipular e seguir esse ritual natural, assim o corpo se prepara para a cama. 2. Banho morno – Uma ou duas horas antes de dormir tomar um banho quente pode relaxar e manter a temperatura corporal, o que é necessário para desencadear o sono. 3. Evitar agentes estimulantes – A cafeína é um dos principais culpados pela perda de sono. Chá, chocolate, refrigerantes e nicotina também devem ser evitados para ter uma boa noite de sono. 4. Preparação do ambiente – Quando houver muita luz, o ideal é escurecer o ambiente. Elimine ou reduza qualquer tipo de barulho e, tente manter o ambiente em uma temperatura agradável. Além disso, não é recomendável levar celular ou ver televisão na cama. 5. Pratique esportes –  Fazer exercícios é essencial, porém evite a prática ao final do dia.

Além desses hábitos, é fácil encontrarmos em diversas referências mais dicas de higiene do sono. É importante destacar que não é uma receita fixa, o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. Por isso é muito importante experimentar o que faz sentido para cada um. O Instituto do sono de Curitiba evidencia que o primeiro passo a ser dado em qualquer tipo de sintoma ou dúvidas sobre o assunto é importante procurar a ajuda de um médico especialista.

Considerações finais

Definitivamente a qualidade do sono é um fator importante e que está diretamente associado à nossa saúde e qualidade de vida. Uma boa noite de sono nos revigora, mas também é essencial para nossa capacidade de pensar, de consolidar as memórias, interfere em nosso estado emocional, além de ser fundamental para outras funções cerebrais. Como vimos acima está comprovado pela ciência os diversos benefícios do sono.

Vimos também, que a má qualidade do sono pode acarretar vários distúrbios e que esses podem ser por alterações respiratórias, transtornos dos movimentos ou alterações cerebrais e seus impactos podem ser os mais diversos e podem comprometer a qualidade de vida das pessoas, afetando os estudos, trabalho, vida social.

Novos estudos que envolvam essa temática são desejáveis, como já mencionado é crescente o número de instituições de pesquisas e tratamentos que se interessam em realizar trabalhos voltados para a importância da qualidade do sono, entretanto é válido mencionar que essa não é uma realidade acessível para todos. Ainda sim, prevenir e pensar em hábitos que promovam à saúde é muito importante.

[1] Sérgio Tufik: Doutor em Psicofarmacologia pela Escola Paulista de Medicina ( EPM/Unifesp). Professor Titular aposentado do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo, é fundador e diretor do Instituto do Sono e presidente da AFIP – Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa.

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