Françoise Dolto foi uma psicanalista francesa que viveu entre 1908 e 1988. Desde criança, Dolto se interessava vividamente pelo que acontecia nas relações humanas. Em um episódio bastante relatado de sua infância, seu irmão mais jovem vomita após uma briga entre a babá e a cozinheira. Os adultos compreendem aquela manifestação fisiológica como uma questão puramente biológica: algum alimento lhe fez mal. Dolto, entretanto, percebe que o irmão comunicou um excesso através do vômito, pois ele ainda não possuía a capacidade de elaborar o que havia se passado. Um médico foi chamado e uma dieta foi recomendada. Para Dolto, contudo, deveriam ter oferecido ao menino um alimento novamente, evitando privá-lo de comer e o auxiliando a digerir o que havia ficado nele como traumático.
Em 1932, Dolto inicia seus estudos em medicina, já interessada em se especializar em pediatria. Quando menina, ela dizia que queria ser doutora da educação. Mais tarde, tornou-se pediatra e psicanalista. Dolto ocupou espaços importantes de transmissão de conhecimento, inclusive o rádio. Ela respondia às questões de pais angustiados com seus filhos, que buscavam respostas sobre como proceder. Dolto logo se popularizou por toda a França, sendo elogiada e criticada por outros psicanalistas.
A psicanálise surge na vida de Dolto para ajudá-la a fazer o que já fazia habitualmente ao atender uma criança: ela via além de um corpo biológico com respostas fisiológicas vazias de sentido. Para ela, tudo é linguagem. Os seres humanos já nascem com o propósito de estabelecer relações significativas com outras pessoas e sofrem, adoecem quando esse processo falha. Sua teoria se estrutura em uma relação absolutamente inseparável do corpo e das questões emocionais e linguageiras, como dizia. O processo de vida de um sujeito passa invariavelmente pelo corpo, dá-se através de experiências vividas no corpo e nas trocas com outros sujeitos, um processo que é sempre mediado pela linguagem.
Françoise Dolto produziu obras importantes para a psicanálise, como Tudo é Linguagem, Etapas Decisivas da Infância, A Imagem Inconsciente do Corpo, Seminário de Psicanálise de Crianças, Solidão, entre outras. Além das obras, uma de suas maiores contribuições talvez seja o respeito que ela tinha pela infância e pela criança. Dolto nos transmite uma noção de sujeito que extrapola a concepção inadequada de que as crianças não entendem, são jovens demais para compreender. Desde a concepção ou anteriormente a ela, há o surgimento de um sujeito capaz de se relacionar: ele está lá nas relações linguageiras que o antecedem.
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