Olá tudo bem? Hoje tenho uma pergunta para vocês. Vocês acham que para alguém ser ético é necessário acreditar na existência de um Deus? Ou ter alguma religião? Bem, a maioria normalmente acredita que sim. Porém ao estudar cuidadosamente a relação entre ambas, fica claro que a resposta não é tão óbvia assim.
O ateísmo é a descrença em deuses. Sendo sua principal diferença é que o ateu acredita em um Deus a menos que o cristão, isso porque o cristão, geralmente não acredita nos deuses de outras religiões. Muito se fala que existem uma relação direta entre religião e moralidade. É como se ter uma religião, ou acreditar em um deus fosse um pré-requisito para que alguém se comporte de forma ética, honesta ou benevolente.
Se o ateu “não acredita em nada” ou “não teme a Deus”, então, seguindo esse raciocínio ele não teria motivos para deixar de roubar, mentir, trapacear ou matar quando isso fosse conveniente para ele. Desconsiderando as existências das leis, as quais dão vários motivos para qualquer pessoa não fazer coisas como roubar um banco ou assassinar alguém, independente qual seja a sua opinião a respeito da existência em um ou mais de um deus.
Se a religião fosse base da moralidade, então deveríamos esperar que em países mais religiosos, as pessoas se comportariam de forma mais exemplar do que aquelas que vivem em países menos religiosos. Na prática, o que observamos está mais para o contrário. Os países mais religiosos do mundo tendem a exibir os índices mais altos de crime violentos, enquanto que os países menos religiosos, esses índices tendem a ser menores. Alguns dos países mais religiosos do mundo são a Nigeria, a Uganda, o Paquistão e o Zimbábue, o Brasil está entre eles também. Já dentre os países menos religiosos se tem a Suécia, a Dinamarca, a Noruega, a República Tcheca e a Inglaterra.
Outra diferença é que dentre os países menos religiosos, a tendencia é que exista mais igualdade, desenvolvimento econômico e paz. Já dentre os países mais religiosos, costumam existir níveis mais elevados de corrupção, mortalidade infantil e pobreza. Isso não quer dizer que a religiosidade seja “a grande culpada” por essas diferenças. Essas nações diferem em muitos outros aspectos além da religiosidade, como o nível de desigualdade e pobreza. Talvez algumas dessas outras diferenças entre países expliquem tanto os níveis mais elevados de violência quanto de religiosidade.
Uma possibilidade é que a pobreza estimule a religiosidade em uma nação, já que poderia ajudar a aliviar o sofrimento decorrentes das dificuldades cotidianas trazidas pela pobreza e a dar sentido em experiencias desagradáveis. Só que mais pobreza e desigualdade se relacionam com mais violência também, então não existe necessariamente uma relação direta entre a religiosidade e violência quando analisamos países. Apesar disso, os dados comparando países, nos mostram uma coisa: o fato da religiosidade ser mais difundida entre pessoas que vivem em um determinado país não costuma se traduzir em menos violência ou desonestidade. Provavelmente, outros fatores são mais relevantes para entender esse tipo de coisado que o nível de religiosidade de um povo. Talvez as religiões sejam ao menos um ótimo incentivo para que as pessoas tenham conduta mais éticas. Afinal, algumas religiões estimulam as pessoas a desenvolverem virtudes de generosidade e o perdão.
Muitos se sentem inspirados pelas suas religiões a realizarem trabalhos voluntários e ajudarem pessoas de vulnerabilidade, por exemplo. Só que uma mesma reunião pode se relacionar tanto com atos bondosos por partes dos seus adeptos quanto atos moralmente questionáveis. Todo ano ocorre várias centenas de atos de intolerância religiosa no Brasil, sendo que as principais vítimas são adeptos de alguma religião de matriz africana. Isso se manifesta através de ataques a centro e terreiros, ameaças e agressão.
Isso sugere que as religiões podem ter vários tipos de efeitos nos comportamentos humanos, inclusive efeitos a motivar alguém a agir de forma mais agressiva, preconceituosa, intolerante com os outros. Isso será especialmente verdadeiro para quem é adepto de certas vertentes religiosas mais intolerantes com as outras e quem possui crenças mais extremistas. De maneira em geral, pessoas religiosas costumam ser mais propensa a declarar que se voluntariam, doam sangue e fazem doações para instituições do que pessoas não religiosas.
Um problema nas pesquisas que constataram isso, é que na maioria delas se baseia apenas no relato dos participantes. Talvez pessoas mais religiosas se vejam como mais altruísta ou sintam uma motivação maior para se apresentarem assim, já que é uma característica valorizada em algumas religiões, mesmo que na pratica, elas sejam menos altruístas do que dizem ser.
Outro ponto é que a moralidade de alguém é determinada por vários fatores, sendo a religião apenas uma das possíveis fontes de influência. A história de vida da pessoa, sua personalidade, seu gênero, sua cultura e até a situação imediata que ela se encontra pode ter uma influência enorme na sua conduta moral. Hoje sabemos na Psicologia, que tanto a moralidade quanto a religiosidade são fenômenos complexos, e cuja a relação é igualmente complexa, sendo que ideias como a de uma dependente exclusivamente da outra são ultrapassadas.
Tudo que sabemos de um ateu é que ele não acredita na existência de deuses, mas isso não nos informa nada sobre seus princípios morais, sua história de vida, seu caráter ou qual sua propensão a ajudar o próximo. Em vários países ainda existe um grande preconceito contra ateus e outras pessoas não religiosas. Muitos os veem como pessoas poucos confiáveis ou perigosos, mesmo que não exista qualquer evidencia cientifica de que eles sejam diferentes de pessoas religiosas nesses quesitos. Sendo dos interesses de certas religiões que exista uma visão muito negativa dos descrentes, já que eles podem ser interpretados como uma ameaça a sua estabilidade e expansão do mundo.
Ter fé em algum Deus, não é garantia de que uma pessoa seja honesta, confiável ou bondosa. Não ter em um deus também não garante nada disso, já que existem pessoas desonestas e pouco confiáveis nesses dois grupos. Existem pessoas religiosas muito legais, ateus incríveis, religiosos que são totalmente incoerentes com que suas religiões pregam e também ateus que não são muito legais.
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