No início de nossas vidas, nascemos e somos tomados por desamparo, ou seja, dependemos de alguém que nos proteja e cuide de nós para que possamos sobreviver.
Esse cuidado resulta em uma experiência de fusão que conduz o bebê à fantasia de que existe apenas um corpo e um psiquismo para duas pessoas, ou seja, ele se considera um só com esse objeto de cuidado.
Quando a criança nasce, no melhor dos casos, a casa vai precisar reorganizar sua rotina em torno dessa criança, e essa criança terá uma mãe, pai ou cuidador que exerça os mais diversos cuidados para com ela. Esse objeto de cuidado estará atento às necessidades desse bebê e também seus incômodos.
Assim, o bebê vai criando uma fantasia de onipotência imaginária, de que é ele quem controla todo mundo daquela casa, inclusive o seio da própria mãe. Apesar de ter saído do corpo da mãe, ele ainda não tem plena consciência disso, e acredita que é a “sua majestade o bebê”, o bebê todo poderoso.
Esse desejo de retornar à essa fantasia de fusão ilusória, onde nenhum desejo nosso é frustrado, está intrínseco dentro de cada um de nós, afinal, quando estamos fusionados, não precisamos lidar com frustrações e responsabilidades.
Contudo, se isso de fato acontecesse, não teríamos a possibilidade de desenvolver uma identidade subjetiva, algo só nosso. Mas, por termos esse desejo enraizado dentro de nós, todas as situações que demonstram que somos seres faltantes, nesse caso, a convivência com o outro e às relações amorosas, faz retornar em nós essa fantasia.
Utilizo como exemplo às relações amorosas pois elas podem ser um bom comparativo, pois, espera-se que o parceiro(a) esteja sempre disponível para fazer tudo aquilo que sentimos ou desejamos e inclusive que adivinhe o que queremos.
É exatamente isso que a mãe ou o objeto de cuidado faz com o bebê. Eles devem estar sempre voltados exclusivamente para o bebê, tentando descobrir às necessidades deste, esquecendo muitas vezes de si mesmos.
Por fim, quando se começa uma relação amorosa essa vivência de dependência é revivida intensamente e os indivíduos acreditam que todas às suas necessidades infantis devem ser satisfeitas pela pessoa amada, sem levar em consideração a individualidade dos sujeitos.
Para finalizar, gostaria de deixar uma fala de Ana Suy à respeito do amor, que vai ao encontro do que esse texto quis abordar:
“Se tem uma formulazinha na vida que não tem erro, está é: quanto mais alguém se objetaliza para ter o amor do outro, menos esse alguém o tem. O inverso, no entanto, nem sempre é verdadeiro, porque há quem não suporte o outro para além de sua fantasia já pronta. Então, não há garantias de que, saindo da posição de atender às demandas do outro, tenha-se o amor dele. No amor nunca há garantias. Amor é sempre aposta.
– Larissa Biessek Sberse
Psicóloga Clínica
CRP: 07/36846
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