Talvez tenha sido útil para a sua vida adulta que na infância ou adolescência seu pai, mãe ou responsável tenham utilizado de disciplina física (bater) para educa-lo(a). Algumas pessoas dizem que foi justamente a educação dos adultos ao seu redor quando era jovem, através de palmadas e, muitas vezes, o uso de objetos como chinelos, cintas, varas ou coisas bem piores, que foi fundamental para que hoje elas fossem pessoas honestas e bem-sucedidas.
Sim, talvez tenha surtido algum efeito positivo nas gerações de crianças do passado o uso da disciplina física para os adultos de hoje, mas se isto aconteceu mesmo, saiba que são exceções à regra. Pois, de fato, a disciplina física, principalmente no nível do abuso está diretamente ligada à formação de indivíduos adultos com problemas de comportamento, transtornos da personalidade, problemas de saúde mental, uso abusivo de álcool e outras drogas, prisões e insucessos em geral.
Na realidade, quando a disciplina física resultou em uma formação saudável para as pessoas não foi a punição em si que realmente fez a diferença. Já ouvi comentários do tipo: “quando meu pai (ou avô) apenas ‘olhava’ para nós, já obedecíamos na hora”. O que está associado ao sucesso deste estilo de educação não é o tipo de punição exatamente que os adultos aplicavam, mas o fato de que eles, com certeza, aplicariam uma punição. No caso, poderia ser a punição física, mas não necessariamente, poderia ser outro tipo de restrição ou consequência sem nenhuma violência, a eficácia estava na consistência com que o comportamento dos adultos ocorria. Ou seja, eles não deixavam de cumprir o que o “olhar ameaçador” significava, só não era necessário que fosse uma punição física.
Por outro lado, o que torna a tentativa de os pais educarem hoje em dia tão ineficaz é justamente o fato de não cumprirem sistemática e consistentemente com as regras que estabelecem para ou com os seus filhos. Sem mencionar a possiblidade de nem ao menos estabelecerem regras claras e objetivas previamente. Este é um dos maiores problemas que dificulta tanto o trabalho educativo dos pais: falta de consistência na aplicação da disciplina, que não deve ser física (bater).
Um exemplo prático: estava eu e meu primo em sua casa à mesa do “café da tarde” conversando justamente sobre como educar nossos filhos. A mesa da sua cozinha é de vidro transparente e, exatamente quando falávamos sobre a possibilidade de bater ou não nas crianças, nossos filhos entraram debaixo da mesa brincando de modo que não queríamos que o fizessem. Eu disse então: quer ver um exemplo? Ele concordou. Eu falei para meu filho (4 anos) sair de debaixo da mesa porque se não o fizesse eu bateria nele. Como meu filho nunca apanhou de mim ele até sorriu debochadamente imaginando que seria uma brincadeira minha (a essa altura compreendo que alguns adultos poderiam se sentir extremamente ofendidos). Então eu disse para meu filho: quer sair daí ou ganhar um “deslike”? Imediatamente ele fez uma expressão seria no rosto e saiu calmamente.
Para quem já conhece o método prático que eu e minha esposa utilizamos para educar nosso filho baseado nos “likes” e “deslikes” não parece nada estranho como ele reagiu. Quem ainda não sabe do que estou falando pode ler sobre o “sistema de pontos” no qual explico até mesmo como foi que nosso próprio filho nos deu as dicas para criar o método. Mas, por aqui quero apenas enfatizar que, podemos fazer molho de macarrão com extrato de tomate, mas sempre será melhor tomates frescos e saudáveis. Assim, existem muitas maneiras de disciplinar filhos mas, prefira sempre as mais inteligentes e saudáveis.
Luis Antonio Silva Bernardo
Psicólogo CRP 19/004142