“Borderline….Feels like I’m going to lose my mind” (“No limite, eu me sinto como se fosse enlouquecer”) – Madonna, Borderline (1983)
Olá tudo bem com vocês? Essa frase acima poderia ser apenas um sucesso da cantora Madonna de 1983 que eu gosto de ouvir para malhar…. Porém, não sei se a mesma deve a intenção ou não (e também não vem ao caso), mas caracteriza perfeitamente a instabilidade, a precária fronteira entre a lucidez e a insanidade em que vivem as pessoas nessa condição. Portanto, depois de ter escrito o que era o Transtorno de Personalidade e suas classificações, me proponho a falar um pouco sobre o Transtorno de Personalidade Borderline (significando limítrofe), um transtorno menos divulgado quanto aos outros que afeta de 1 a 2% da população em geral, sendo que a maior parte das pessoas afetadas (até 70%) corresponde a mulheres.
Relembrando que os transtornos de personalidade são padrões de sentimentos e ações inflexíveis, e estáveis que diferem muito das expectativas da cultura local e levam a pessoa a muito sofrimento e prejuízo. O DSM lista 10 diferentes transtornos de personalidades que estão organizados em grupos e entre esses está o Transtorno de Personalidade Borderline. Sendo um grave transtorno mental com padrão característico de instabilidade na regulação do afeto, no controle de impulsos, nos relacionamentos interpessoais e na imagem de si mesmo. No qual pessoa com esses diagnósticos podem ter reações extremas diante da possibilidade de ser abandonada, mudar de maneira rápida e extrema suas emoções a agir de maneira muito impulsiva em diferentes contextos.
Identificar uma pessoa com personalidade borderline não é difícil, pois os sintomas incomodam todos os que se relacionam com ela, especialmente familiares. O quadro engloba algumas manifestações típicas de vários transtornos psiquiátricos como esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar, mas em geral os pacientes não saíram totalmente do estado considerado normal para serem enquadrados em tais classificações. A “síndrome” borderline é, portanto, um mosaico de sintomas menos acentuados de diversos transtornos.
Por falar em Transtorno Bipolar (que me comprometerei a escrever sobre), o Borderline é confundido constantemente com o mesmo, porem a principal diferença é que no Borderline as mudanças na emoção são muito mais rápidas. Já no Transtorno Bipolar, uma mudança emocional pode durar semanas ou meses, enquanto pode ocorrer várias mudanças emocionais em um único dia quando se fala de Borderline, se relacionando com uma maior chance de abuso de drogas, comportamentos impulsivos, perigosos e suicidas.
Também é comum, que tenham sentimentos frequentes de vazio, tédio além de ameaças, tentativas de suicídio e automutilação. Em situação de muito estresse, é possível que a pessoa tenha ideação paranoide, ou seja começa a desconfiar exageradamente de pessoas ou sintomas dissociativos, como perder o contato com a realidade. Como a pessoa com esse diagnostico vivenciam emoções muito intensas e instáveis, qualquer sinal de abandono pode levar a pessoa a sentimento incontroláveis de raiva e a se comportar agressivamente.
Várias causas são apontadas para a origem do transtorno, sendo comum que os sintomas de Borderline surja na adolescência ou início da fase adulta. E sejam estáveis ao longo da vida, por isso a pessoa costuma ter sua vida afetiva, profissional e social prejudicada de maneira prolongada. Muitos fatores podem desencadear os sintomas. Parentes de alguém com diagnostico de borderline tem cerca de 5 vezes mais chance de também desenvolver o transtorno do que a população em geral.
Uma infância que envolva algumas formas constante de abuso, negligencia, experiencias estressantes, ou instabilidade familiar, também se relacionam com maiores chances de desenvolver os sintomas. Pessoas com esses transtornos tendem a possuir um volume menor de certas partes do cérebro, como a amigdala e o hipocampo. E olha que coincidência essas duas áreas se relacionam bastante com a regulação das emoções, sendo que o hipocampo é especialmente importante no controle da agressividade e impulsividade. E também já se observou um volume menor de outras partes como o córtex orbitofrontal.
Essa área se relaciona com a percepção de emoções, empatia, avaliação de consequências das próprias ações e tanto na aprendizagem quanto no controle no comportamento socialmente adequado, dentro outras coisas. Como essas partes dos cérebros e outras estão fortemente ligadas aos problemas mais comuns que alguém com Borderline enfrenta, muitos cientistas acreditam que conhecer mais sobre a estrutura e o funcionamento do cérebro dessas pessoas vai ser importante para entender melhor esse transtorno.
O impacto social desse transtorno é muito grande, a taxa de mortalidade devida ao suicídio é alta, atinge 10% dos pacientes. Trata-se, desta forma, de uma das desordens psicológicas comumente associada ao suicídio. Os tratamentos usuais são pouco efetivos, já que mesmo recebendo medicamentos e tratamento psicossocial, os pacientes continuam com graves desajustes no trabalho, nas relações sociais, na satisfação global e no funcionamento geral. Assim, para controlar esses pacientes, os melhores resultados têm sido obtidos com programas de psicoterapia, dentre os objetivos, os principais são aprimorar as habilidades comportamentais, ensinando táticas específicas para regular as emoções, aumentar a motivação para mudanças, estruturar o ambiente e otimizar a capacidade e motivação dos próprios terapeutas. No entanto, esta abordagem requer uma assistência continuada, uma vez que este tipo de patologia envolve graves transtornos de personalidade, o que fragiliza o ego possibilitando recaídas marcadas pelo comportamento imprevisível.
Diferentes tipos de tratamentos foram desenvolvidos, para ajudar pessoas com esse diagnostico a viver suas vidas de maneira mais satisfatória e funcional. As opções de tratamento, assim como é o caso de praticamente todos os transtornos mentais, podem envolver medicações, psicoterapias, intervenções com a família dentre outros. Em pacientes com descontrole comportamental severo, a prioridade é melhorar a regulação do comportamento, isto é, colocar o paciente funcional e produtivo. Já para os suicidas, naturalmente, o primeiro passo é reduzir o impulso suicida. Quando já se conseguiu o controle do comportamento, a disforia e as dificuldades de lidar com as experiências emocionais tornam-se o foco da terapia.
E muitas vezes, tais pessoas são rotuladas de “irresponsáveis”, “egoístas”, “desequilibradas”, “problemáticas”, o que só agrava sua instabilidade e faz com elas se aproximem mais e mais da loucura, já que dificilmente sozinhas conseguirão contornar a dificuldade. Para conviver com a personalidade borderline, o primeiro passo é caracterizá-la como um transtorno psiquiátrico tratável e procurar ajuda com profissionais da saúde especializados. Tanto a atitude pessoal de aderir à terapia, quanto a educação da família são essenciais, na medida que o único tratamento efetivo é o de equipe, contando com a colaboração de médicos, psicólogos, a família e o paciente.
E ai o que acharam do artigo? Para mim é muito importante saber a opinião de vocês…..