Vamos falar sobre meditação? Este assunto tão comentado em artigos, cursos e workshops mas que, ao meu ver, ainda está longe de ser esgotado, visto que são inúmeras as formas de se realizar essa prática.
Escuto muitas pessoas falarem que não conseguem meditar. A principal queixa, que você já deve até saber, é: “não consigo ficar sem pensar em nada”; ou: “não consigo ficar parado!” Eu diria: que ótimo, é sinal de que você está vivo! Nosso corpo está em constante movimento, esse só cessa quando morremos.
Temos no nosso organismo trilhões de células que se movem o tempo todo. Existe também o movimento dos nossos órgãos, dos líquidos, dos nossos fluxos sanguíneo e respiratório. Tudo isso ocasiona um ritmo interno próprio. Quando nos propomos a meditar, diminuímos o foco do mundo externo, com todos seus estímulos cada vez mais intensos e presentes em nossas vidas, e nos conectamos com esse mover interno, portanto, já não estamos totalmente parados.
Uma das principais dicas para quem está começando a meditar é levar consciência para a respiração. Respirar conscientemente significa levar a atenção para o movimento de entrada e saída do ar pelas narinas. Essa pequena atitude já é o suficiente para nos trazer conexão com nosso pulsar interno. Ao nos atentarmos nesse movimento de entrada e saída do ar, podemos também perceber a expansão e contração dos nossos pulmões e abdômen, nossas costelas abrindo-se e fechando, e quais sensações tudo isso nos proporciona.
Uma ideia interessante que quero abordar aqui é a de que, a partir do momento que começamos a nos familiarizar com essa consciência, podemos levá-la para várias pequenas ações do cotidiano. O autor budista Thich Nhat Hanh, no livro “Trabalho – a arte de viver e trabalhar em plena consciência”, fala do conceito de atenção plena, que consiste em nada menos do que realizar qualquer atividade do dia a dia com plena consciência, isso vai desde escovar os dentes, fazer uma refeição, dirigir, tomar um ônibus ou metrô, fazer uma ligação ou reunião de trabalho, realizar alguma atividade doméstica, ler um livro, descansar.
Estamos praticando a consciência plena quando focamos toda nossa atenção àquilo que estamos realizando, independentemente de qual seja a tarefa. Como consequência, nosso próprio ritmo interno está investido nessa ação. Esse não deixa de ser o princípio da meditação. Sendo assim, toda atividade do dia a dia, se realizada com atenção plena, já consiste em uma forma de prática meditativa.
Podemos meditar fazendo uma simples caminhada, desde que estejamos atentos à cada movimento, cada passo, cada resposta que esse movimento provoca no nosso corpo, respeitando e escutando nosso fluxo. Podemos também observar o que há ao nosso redor, porém é importante buscar a percepção de como somos influenciados internamente por esses estímulos externos.
Estímulos sempre estarão presentes, sãos os sons, aromas, temperatura do ambiente. Quando estamos em plena consciência podemos observar a forma como somos afetados por eles. O mesmo ocorre com os estímulos internos, como nossos pensamentos. Podemos nos tornar observadores dos nossos pensamentos, dessa forma não somos controlados por eles, apenas observamos e podemos escolher deixá-los ir.
É por isso que quando praticamos a meditação estamos nos libertando aos poucos de certos padrões, crenças e ilusões e entrando em contato com nossa verdade interna, gerando autonomia e familiaridade com nossos ritmos e criando padrões mais autênticos.