Vivemos hoje em um mundo que nos exige rapidez e alta produtividade como sinônimo de eficiência, sucesso, prosperidade e realização pessoal. Quanto mais coisas fizermos em um intervalo cada vez menor de tempo, mais “bem-sucedidos” seremos. Então não podemos ser “lentos”, isso não é muito aceitável em uma sociedade que valoriza o ritmo frenético e muitas vezes desenfreado das coisas, com poucas pausas para reflexão e assimilação.
A tecnologia digital e o mundo online facilitaram ou até mesmo foram agentes propulsores para essa aceleração da forma como interagimos e vivemos hoje nossas vidas. A internet é uma rede que diminuiu distâncias e possibilitou que tudo aconteça em tempo real.
Hoje, quando fazemos uma viagem e tiramos uma foto para registrar um momento ou uma paisagem podemos publicá-la no mesmo instante em nossas redes sociais, e todos nossos contatos, próximos de nós ou não na vida “não digital”, podem contemplar aquela mesma paisagem ou momento quase ao mesmo tempo que nós.
Lembro do tempo em que isso ainda não era possível. Tirávamos fotos em câmeras analógicas e usávamos um filme fotográfico, que quando chegava ao final precisava ser levado para revelar. Sim, algo ali seria revelado, trazido à luz. E tinha um tempo de espera, não era imediato. Talvez ainda acontecesse uma reunião com amigos próximos para mostrar as fotos da viagem, contar os fatos engraçados e passar dicas interessantes.
Agora vemos as fotos de amigos em tempo real. Ouvimos suas histórias em áudios de alguns minutos (que não podem ser muitos para não ficar muito longo e assim poupar o tempo daquele que escuta).
Encurtamos tempos e distâncias, mas precisamos ter cuidado para não esvaziarmos a experiência. A tecnologia veio para ficar e isso é totalmente inquestionável, inclusive porque traz inúmeros avanços positivos para nossa sociedade. Mas no âmbito da nossa vida pessoal, social e emocional, pode nos trazer um enorme vazio de sentido.
O nosso tempo é o agora. Mas não o agora do mundo digital, que exige rapidez e simultaneidade. É o agora da nossa própria presença, do nosso ritmo interno, que se constitui com a nossa respiração, com o contato com quem está verdadeiramente próximo.
Estamos vivendo tempos de distanciamento social, mas esse é mais um motivo para de fato lentificarmos e fortalecermos o vínculo e a presença com aqueles poucos que podem neste momento estar perto de nós.
E que levemos essa lição para quando isso tudo acabar. Talvez os tempos pandêmicos tenham nos ajudado a valorizar mais os pequenos detalhes e prazeres da vida, em contrapartida ao excesso de telas e interações digitais a que fomos expostos.
Que possamos então estar atentos para não sermos engolidos pelo ambiente digital e principalmente, pela sua ânsia por velocidade. O mundo pode até se adaptar a essa rapidez, mas o nosso corpo não. Nosso corpo precisa continuar a viver e sentir e, para isso, precisamos de TEMPO.
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