Qualquer passagem implica um luto, com a pandemia isso não foi diferente, desde seu início à um ano e meio atrás até os dias de hoje continuamos no exaustivo trabalho de lidar com essas perdas.
Perdemos nossa autonomia, empregos, convívio social e principalmente, vidas. Em um contexto tão peculiar e nunca vivenciado antes, elaborar o luto tornou-se uma tarefa diária e consequentemente mais dolorosa.
Em nossa vida criamos laços com o outro o tempo todo, seja em um relacionamento ou em um trabalho, por exemplo. Nos ancoramos ao outro e quando o perdemos, algo de nós também se vai, algo se modifica, por isso podemos entender o luto como uma transformação daquilo que era você mesmo.
No contexto da pandemia, essa transformação se deu de diversas formas, para as tarefas diárias nos apegamos aos métodos preventivos – distanciamento e uso da máscara – a socialização se tornou remota, via redes sociais e vídeos chamadas. Fomos encontrando formas de readaptação.
Ao perdermos alguém, a transformação ocorrerá com a aceitação dessa partida e a compreensão de que você pode carregar algo daquela pessoa consigo. O que ela tinha que você admirava? Qual traço dela você se identificava? Com essa identificação, será possível assumir uma parte do outro em você, fazendo com que ele não esteja longe e sim conectado a você, incorporado ao seu eu.
Se criamos laços o tempo todo, isso não é diferente no processo de elaboração da perda, mesmo a distância os rituais podem ser ajustados, é importante falar sobre a pessoa perdida, contar histórias sobre ela e as vivências juntos. Fato é que às vezes o luto do outro contribui para o aperfeiçoamento do meu luto, por isso compartilhar os sentimentos pode ser de grande conforto.
E por fim, é importante ressaltar que a morte está mais real do que nunca, falamos sobre ela todos os dias, a cada partida pelo vírus é o reviver da perda para quem ficou, por isso respeite o seu tempo, só quem sente sabe de sua própria dor.
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