No capítulo 3 as autoras traçam uma linha cronológica nos apresentando os principais estudiosos, bem como momentos de relevância sobre a utilização do Rorschach, abordando os aspectos dos primeiros seguidores de Hermann Rorschach, desde a criação dos sistemas norte-americano e europeu, e nos contam a história do desenvolvimento no cenário brasileiro e de seus precursores.

Destacam inicialmente a disseminação gradual da metodologia da obra de Rorschach pelo mundo, onde o contexto europeu foi de extrema importância para o estudo dos princípios que embasaram a avaliação da personalidade com o método, influenciando outras regiões do mundo posteriormente

Nesse sentido, os estudos pioneiros foram embasados por meio de tradução dos escritos de Rorschach para a língua de cada região e posterior pesquisa referente às populações, de forma que os aspectos históricos e multiculturais relativos às regiões foram responsáveis pela criação e idealização dos usos do instrumento, concorrendo para a elaboração de novos sistemas.

Em 1910 duas correntes de investigação da personalidade se apresentaram: nos Estados Unidos a de Francis Galton (influenciado por Charles Darwin, Pierre Laplace e Joham Carl Friederich Gaus) a qual envolvia a percepção e avaliação da inteligência e na Europa a de Alfred Binet (influenciado por Charcot) amparada pela testagem individual e pelo diagnóstico diferencial, baseada nos preceitos da Psicanálise europeia.

Importante destacar que, Sigmund Freud. Eugen Bleuler e Carl Jung eram inspirações para Rorschach, tendo em vista os conceitos referentes ao inconsciente, mecanismos projetivos e identificação de estímulos, vindo a fundamentar a análise de dados da personalidade. A arte, a política e a ciência também influenciaram o desenvolvimento do método de Rorschach. O instrumento também influenciou linhas de compreensão do comportamento, pensamento e personalidade, estudos do Reino Unido, Japão, Turquia, Brasil, Argentina, dentre outros.

No que se refere a continuidade da obra de Rorschach, interessante mencionar que a disseminação do entendimento se deu graças ao empenho de amigos e colegas após seu falecimento, dentre os quais destacamos Walter Morgenthaler e Emil Oberholzer, como sendo os principais colaboradores dos estudos, mantendo a fidelidade dos estudos aos borrões das pranchas, com a mesma interpretação da análise de conteúdo e codificação de respostas. Ademais, eles realizaram treinamentos sobre o método, possibilitando seu uso abrangente pelo mundo.

Outros intrumentos derivaram da obra de Rorschach, dentre os quais as propostas de Hans Behn-Eschenburg, George A. Hermann Roemer e Hans Zulliger. A clínica de Burgholzli (Zurique) pode ser destacada como local importante de troca de ideias para o desenvolvimento das pesquisas do método.

Behn-Eschenburg, trabalhou diretamente com Rorschach e posteriormente seus estudos acabaram por derivar um kit de pranchas similares, nomeadas de Behn-Rorschach, tendo sido ferramenta fundamental para os testes de fidedignidade realizados com o Rorschach. Roemer buscou utilizá-los na avaliação de aptidão acadêmica, em oposição à proposta original de Rorschach sobre o uso direcionado ao diagnóstico clínico.

Por sua vez, Zulliger inspirado no método de Rorschach criou o teste de Zulliger, cuja abordagem era similar, com três pranchas para avaliação em grupo, passando por muitas alterações desde as primeiras ideias e sistemas diferentes.

No contexto europeu, necessário mencionar os trabalhos realizados por Marguerite Loosli-Usteri (Zurique), graduada em Filosofia, Psicologia, Literatura e Pedagogia, a qual em 1929 publicou em francês um dos primeiros estudos normativos do Método de Rorschach com

crianças de 10 a 13 anos, além de estudar os efeitos da guerra nas crianças, ansiedade infantil e a personalidade. Houve a publicação de seu manual de Rorschach no ano de seu falecimento, o qual continha a descrição sobre a técnica para interpretação dos resultados, da Psicanálise, com a explicação de termos técnicos; estatística para interpretação e análise dos resultados e o procedimento de aplicação e feedback posterior a avaliação.

Ewald Bohm, psicólogo dinamarquês-suíço dedicou parte de sua vida aos estudos do Método de Rorschach, inicialmente visava unificar em um sistema, observando os estudos de colegas referentes a novas variáveis e teorias para interpretação de resultados, tendo grande aceitação na Alemanha. Utilizou preceitos da Psicanálise e Medicina ao psicodiagnóstico para interpretação dos resultados do seu método.

Em 1970, Nina Rausch de Traubenberg, nascida na Finlândia, publicou um manual do método de Rorschach pela Escola Francesa, bem como traduziu artigos e publicações internacionais sobre os estudos do Método de Rorschach. Morou na Alemanha, Tchecoslováquia, Bulgária, França e Estados Unidos, realizando estágio neste último e tendo contato com diversos estudos. Por conta de seus estudos, derivou o Sistema da Escola Francesa (atual Escola de Paris) a qual recebeu contribuições importantes, como a de Cécile Beizmann com crianças (avaliando níveis de estruturação da personalidade).

Catherine Chabért realizou diversos estudos sobre a Psicanálise e as clínicas adulta e infantil com testes projetivos e o Rorschach, psicopatologia e a melancolia. Didier Azieu apresentou inúmeras contribuições aos estudos de Rorschach na linha psicanalítica de atuação e Françoise Minkowska trabalhou com crianças e suas produções artísticas, esquizofrenia e a clínica de tratamento da psicopatologia.

Na fundação da ISR (Sociedade Internacional de Rorschach), por meio da equipe eleita, o objetivo era a divulgação do Método de Rorschach aos demais países. Da ISR derivou a Revista internacional Rorschachiana possibilitando a divulgação de pesquisadores sobre os trabalhos com o Rorschach. De tais eventos, surgem as sociedades de Rorschach no mundo.

Concepções da fenomenologia e daseinanalyse foram levadas aos aspectos interpretativos do Método Rorschach por Ludwig Binswanger e Roland Kuhn, da Psicologia Diferencial por Louis W. Stern e da Psicologia do Desenvolvimento com o Psicodiagnóstico do Rorschach por Franziska Baumgarten-Tramer.

A obra de Rorschach permitiu a realização de estudos, para testagem de diferentes técnicas de avaliação e o surgimento de variáveis de interpretação.

Diversos outros estudiosos contribuíram com os princípios de Rorschach como Ference Merei, Isabella Tarcsay, Hans Binder (influenciou a criação de sistemas de Rorschach pelo mundo), Kenower Bash (supervisionado por Carl Jung e Carl Alfred Meier), Zigmunt Piotrowski.

Nos Estados Unidos, Emil Oberholzer treinou e supervisionou os primeiros estudiosos norte-americanos na Suíca, os quais levaram o Método de Rorschach para a América do Norte, gerando diversos sistemas de uso do instrumento, sendo criados e divulgados nos Estados Unidos e assimilados gradualmente em diversas localidades no mundo.

Nos Estados Unidos, as contribuições iniciaram a partir de 1920 com os estudos de David M. Levy, Samuel J. Beck, Marguerite R. Hertz, Bruno Klopfer, Zygmunt A. Piotrowski e David Rapaport. Por meio desses estudos, diversos sistemas de Rorschach surgiram e após uma gradual polarização a partir de 1930, houve um distanciamento entre cinco criadores dos sistemas.

Cinco sistemas de Rorschach foram utilizados de forma oficial nos Estados Unidos: de Beck, Klopfer, Hertz, Piotrowski e Rapaport, explodindo na cultura popular com psicoterapia e os borrões de tinta.

Em 1953 John Exner mudou a história dos sistemas norte-americanos, escrevendo 14 livros e mais de 60 artigos sobre o Método de Rorschach e organizando um grupo de

pesquisadores, o que permitiu a unificação dos sistemas presentes (Sistema Compreensivo de Exner, posteriormente denominado Sistema Compreensivo, traduzido e utilizado em todo o mundo). Outros pesquisadores acompanharam os estudos de Exner e continuaram as pesquisas nas décadas seguintes.

A partir de 1999 surgiram críticas sobre o referido Sistema, de forma que em 2005 Exner uniu um grupo de pesquisadores para efetuar estudos de metanálise, o qual teve duração de 6 anos, com resultados parciais publicados em 2008 e todos os resultados em 2010.

A constante análise do Sistema Compreensivo permitiu a verificação de aspectos que não estavam em acordo para utilização, de forma que nesse contexto surge o R-PAS, lançado em 2011, cujos criadores são os psicólogos pesquisadores Gregory Meyer, Joni Mihura, Donald Viglione, Philip Erdberg e Robert E. Erard, os quais propuseram uma nova forma de aplicação do instrumento.

Os estudos no contexto brasileiro decorreram de estudos europeus e norteamericanos, em que os pioneiros – – os primeiros rorschachistas autodidatas em sua maioria – apresentaram uma representatividade e influência em toda a América Latina. No Brasil, a diversidade de conceitos teóricos foi gradualmente acolhida pelo país miscigenado em sua prática de saúde mental.

No período da Primeira Guerra Mundial chegaram ao Brasil as teorias eugênicas e de tratamentos psiquiátricos abusivos, com a intenção de limpeza social, com uma necessidade filosófica de “higienizar” a população, com recursos para tratamento e educação, tendo em vista que a população era adoecida e sem instrução. Nesse sentido, os tratamentos psiquiátricos e psicológicos surgem como práticas de eugenia.

Os primeiros estudos do Método de Rorschach remontam 1927 com o trabalho do médico pioneiro no estudo e avaliação psicológica, Ulisses Pernambuco, liderando desde 1925 o Instituto de Psicologia de Recife. Importante ressaltar que contribuiu para a criação do Instituto Pestalozzi por meio do qual originou-se a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais).

Helena Antipoff, de origem russa, veio ao Brasil em 1929, auxiliar na implementação de um modelo educacional associado à Psicologia, a qual contribuiu com a divulgação do Método Rorschach para análise e observação infantil (utilizando o sistema de Marguerite Loosli-Usteri). Seus estudos anteriores (Genebra e Paris) permitiram a comparação com crianças brasileiras.

Já em 1983, a contribuição é de José Leme Lopes sobre os benefícios do Método de Rorschach para a saúde, com o trabalho “O Psicodiagnóstico de Rorschach na consulta médica psicológica no Rio de Janeiro”. Lopes auxiliou no desenvolvimento da Psiquiatria com a criação do Instituto de Psicopatologia (atual Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Nas décadas seguintes, 1940 e 1950, surgem estudos com o Rorschach com diversas propostas. Em 1943 os pesquisadores Leme Lopes e Aníbal Cipriano Silveira Santos realizaram contribuições importantes, de tese e artigo respectivamente sobre o Rorschach.

Silveira permitiu o desenvolvimento de um sistema próprio de interpretação, Sistema Aníbal Silveira, incorporando um modelo genético estrutural de personalidade, baseando-se nos estudos de Hermann Rorschach e Hans Binder.

Em 1959, Silveira continua os estudos e a divulgação do Rorschach com a criação da Sociedade Rorschach de São Paulo, convidando diversos colegas, todos com importantes publicações sobre o tema, como o Sistema Cícero de Sousa, de 1955 e de Ruy Coelhi, com a tese “Estrutura social e dinâmica psicológica” de 1964.

Alcyon Baer Bahia retorna da Argentina para o Brasil, após uma década, contribuindo com a Psicanálise e a Terapia de Grupo, realizando o primeiro grupo terapêutico com pacientes do país.

Ocorre que, entre 1964 e 1985 o Brasil se encontrava sob o regime de ditadura militar, período marcado com tortura e exílio de psicólogos e professores universitários. Porém, a partir de 1960 os estudos do Método Rorschach se intensificaram e os trabalhos foram divulgados em publicações e comunicações em congressos e reuniões sobre avaliação da personalidade.

Outro fato importante é que a Sociedade Brasileira de Rorschach auxiliou na criação da Associação Latino-Americana de Rorschach (Alar), cuja representação brasileira foi dada pela participação de Fernando de Villemor-Amaral na presidência e Adelina Perito como tesoureira.

Em 1967 foi publicado o Manual brasileiro de Rorschach de Isabel Adrados. E pesquisas normativas com crianças se seguiram com trabalhos importantes como os de Margarida Hofmann Windholtz, Isabel Adrados, André Jacquemin e Monique Augras.

A partir de 1990, a Psicologia brasileira abrange estudos com o Sistema da Escola de Paris, Sistema Compreensivo, Sistema de Aníbal Silveira, Sistema de Beck (parcialmente) e o Sistema de Kopfler. Este último, amplamente divulgado por Cícero Emídio Vaz. Pesquisas pioneiras com o Sistema Compreensivo foram divulgadas a partir dessa década, tendo a primeira publicação ocorrido em 1993 de Regina Nascimento. Já em 1997 os primeiros estudos com esse Sistema foram apresentados oficialmente e reconhecidos internacionalmente, despertando o interesse de parcerias de pesquisadores norte-americanos.

Podemos concluir que as pesquisadoras Nascimento, Yazigi, Semer e VillemorAmaral foram as principais divulgadoras do Sistema Compreensivo no Brasil. O trabalho delas incluiu a revisão da tradução de livros deste Sistema e a disseminação de estudos e pesquisa sobre a temática e com dados utilizados em pesquisas norte-americanas, além de possibilitar a atuação com o Sistema R-PAS futuramente.

Com o lançamento do R-PAS em 2011 ampliou-se os estudos e pesquisas para a divulgação do Sistema, mais rápida e efetiva, tendo em vista o contato de pesquisadores brasileiros com os seus criadores. Diversos trabalhos foram realizados, reaproveitados e estatisticamente trabalhados, servindo para a confirmação de evidências de sua confiabilidade.

As pesquisadoras Nascimento, Yazigi, Semer e Villemor-Amaral e Ana Cristina Resende foram indicadas enquanto colaboradoras de estudos multiculturais, além de diversos outros participaram de diferentes fases das pesquisas, o que serviriam como referencial para estudos internacionais do R-PAS, atuando inclusive como juízes em estudos norte-americanos, desenvolvendo pesquisas, elaborando cursos, grupos de estudos sobre o R-PAS, facilitando sua divulgação e compreensão, colaborando com resultados para a história do uso do Rorschach no país e no mundo.

Ao longo do tempo, diversos estudiosos brasileiros contribuíram para os princípios do Rorschach, o qual se tornou uma ferramenta amplamente utilizada na prática de saúde mental no país.

Referências

AMARO, Terezinha A. de C.; HISATUGO, Carla Luciano Codani. “Rorschach o Método: passado, presente e futuro”. 1 ed. São Paulo: Hogrefe. 2019.

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