Freud relatou que havia uma criança em um quarto escuro. Ela, tomada pelo medo, gritava para a tia: “Fale comigo! Fale comigo!”. A réplica da tia para o pedido foi de que não adiantaria conversar, uma vez que a criança não a veria. Entretanto, o que a criança disse a seguir provocou reflexão: “Se alguém fala, fica mais claro!”. Certamente a criança não quis dizer que, com a fala, as luzes acenderiam. Não. Foi mais profundo. O medo que ela sente não é do escuro, e sim do desconhecido atrelado à solidão.
Se pensarmos bem, quantas vezes somos a criança rodeada de escuridão? O que clareia nosso quarto, nosso âmago? Ser a criança que busca clareza é uma nova luz acima da pergunta mais antiga que a humanidade já ousou fazer: Quem nós somos?
É plausível admitir que, em meio a toda a cacofonia tecnológica que as mídias sociais trouxeram, estamos mais incertos que nunca nesta escuridão que nos rodeia. Como, então, tornar nítido?
A resposta é simples; sua repercussão, nem tanto. Como a criança, falar é o caminho à luz interior, à clareza do pensamento. O caminho que se percorre para se chegar até lá é assustador. Causará mal-estar. Confrontar nossos medos, destrinchar as origens dos nossos hábitos e vícios, não é fácil. Aliás, ninguém disse que seria.
O filósofo alemão Jürgen Habermas nos alerta que “não é a relação de um sujeito solitário com algo no mundo objetivo que pode ser representado e manipulado, mas a relação intersubjetiva, que sujeitos que falam e atuam assumem quando buscam o entendimento entre si, sobre algo”. O poder da fala não deve ser subestimado. Falar é construir, reconstruir e, às vezes, destruir.
Portanto, finalizo a primeira parte desta breve instigação filosófica para convidá-los à autorreflexão, a falar. Juntos, a emoção mais antiga e mais forte da humanidade, nas palavras do entendimento lovecraftiano, que é o medo, pode ser apenas mais um degrau na escada.
Daqui, estou pronto para ouvi-lo quando se sentir pronto.: (41) 99283-8970
Heduardo Del Pintor Vieira / Psicólogo – CRP: 08/32353
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Sou Psicólogo com pós-graduação em Psicanálise e escrevo textos autorais com base na teoria psicanalítica (de Freud a Lacan) através do olhar sempre provocante da filosofia (de Nietzsche, Schopenhauer a Ludwig). Recentemente, fui aprovado e convocado a atuar junto ao Centro de Triagem Covid-19, da Secretaria de Saúde do Estado de Mato Grosso. Como experiência profissional própria do âmbito psicológico, atuei como estagiário supervisionado no Pronto Socorro Municipal de Cuiabá, com ênfase no atendimento no leito dos pacientes. E dois anos na área de recursos humanos.
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