A violência obstétrica consiste em violência verbal, violência física, constrangimento, procedimentos médicos sem consentimento da paciente, demora no atendimento, abuso, desrespeito, negligência médica, não fornecer alívio para a dor, afastar mãe e filho após o nascimento, negar acompanhante,
negar atendimento, fazer episiotomia ou ruptura da bolsa, fazer manobras de parto desnecessárias, exames de toque em excesso, falar palavrões etc. Estatisticamente, 25% das mulheres que são atendidas no SUS sofrem violência obstétrica,sendo a maior parte mulheres negras.
Devido aos casos de violência obstétrica, o conceito de humanização no SUS se torna mais importante nesse contexto não só para prevenir violência, como também para alertar as pessoas sobre o que é violência obstétrica. Segundo Passos (2005), o conceito de humanização deve ser reavaliado para que se possa criar um modelo eficaz de atenção e gestão, pois o conceito foi banalizado e as políticas públicas foram fragmentadas e apresentam baixa horizontalidade. A Política Nacional de Humanização (PNL) foi criada em 2003 para propor as mudanças necessárias tendo princípios básicos como a inseparabilidade entre atenção a gestão no SUS, transversalidade e autonomia
dos sujeitos. Isso é uma aposta esteticamente ética e política de efetivar os princípios do SUS.
Pensando na perspectiva social que pode levar à violência obstétrica, para Cisne (2015), o agravante para a violência contra a mulher é a sociedade desigual na qual vivemos e as mudanças para isso devem ser maiores e mais profundas do que os ideais da Revolução Francesa “Igualdade, fraternidade e liberdade”. Deve-se, portanto, problematizar a importância da luta pelos Direitos Humanos para o combate da violência contra a mulher.
Deve-se criar políticas públicas que possibilitem a troca de conhecimentos entre usuários do SUS e profissionais de saúde. A humanização no parto é um processo que começa com a informação que é passada à mulheres antes do parto e não deve terminar até que todas as medidas de saúde após o parto sejam efetivadas para o bem-estar biopsicossocial da mulher e do bebê.
Visando o conceito de humanização transversal, não fragmentado, não banalizado, com troca de diálogo e respeito e maior autonomia ao sujeito, pensou-se em uma nova ferramenta de intervenção a partir da psicoeducação. Considerando que a humanização no parto é um processo e não um produto que se entrega pronto, deve-se pensar em um processo de troca de informações, apoio e respeito mútuo para garantir não só a segurança, mas também o bem-estar da equipe de saúde e, sobretudo, das pacientes.
Referências
BENEVIDES, Regina; PASSOS, Eduardo. A humanização como dimensão pública das políticas de saúde. Ciência e Saúde Coletiva. V.10, n. 3, p 561-
571, 2005.
CISNE, Mirla. Direitos humanos e violência contra as mulheres: uma luta contra a sociedade patriarcal-racista-capitalista. SERV. SOC. REV., Londrina, v. 18,
n.1, p.138 – 154, jul./dez. 2015.